sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Música, cinema, TV...


Perguntei-lhe sobre seus compositores favoritos, além de Tom Jobim. Margaret rapidamente tomou de uma folha de papel e escreveu os nomes: Cole Porter, Jerome Kerr ("Show boat", "Smoke gets in your eyes"), Burt Bacharat, Ari Barroso, Edvard Grieg, Oswaldo Fares, Augustin Lara. Entre os "clássicos", prefere Debussy, Chopin e Tchaikowsky. Sobre os mais contemporâneos, citou a boa música da Motown: The Supremes, Temptations e Steve Wonder. Tá?
No cinema, Margaret Russell participou de "Clementine tango", cantando uma canção de sua autoria. Na televisão francesa, atuou em diversos filmes e programas, mas parece não dar nenhuma importancia a isso e não quis demorar-se nesse assunto. Na verdade, essa artista orgulha-se menos de sua carreria de cantora do que do seu incansável trabalho de compositora. Ela continuava compondo e negociava suas canções diretamente com os intérpretes, como já fez no passado com Duke Ellington (com ela, na foto acima).
Queixou-se da situação dos compositores na França que, como no Brasil, enfrentam dificuldades quanto aos direitos autorais. Orgulha-se de suas composições, que foram incluídas, numa coleção editada na Bélgica (Clássicos do Jazz), entre os dez melhores slows do mundo. São elas: "Tell me about him" e "Stockholm in summer". Esses álbuns estão fora de catálogo, mas as músicas foram relançadas na Europa no CD Midnight slows vol IV e VI pela gravadora Black&Blue.
A certa hora, tivemos que encerrar a entrevista, que já se transformara em agradável bate-papo informal, regado a vinhos e queijos franceses. Eu teria que embarcar de volta para o Brasil às cinco horas da madruga, enquanto Margaret, autêntica artista notívaga, esticaria a noite trabalhando, pois prefere dormir pela manhã.
Foi uma grande alegria conhecer Margaret Russell e é com a mesma alegria que apresento-a aos leitores do blog.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Tom Jobim


São Francisco, 1964: Margaret ouviu pela primeira vez as músicas de Tom Jobim e ficou admirada com "Garota de Ipanema". Muitos anos depois, em 1978, ela veio a conhecê-lo pessoalmente em Paris, durante um show no Olympia. Ficaram amigos e Margaret afirmou que sente-se apaixonada por ele até "hoje". Ela guarda a foto deles (ao lado) , feita por Toquinho, entre seus documentos pessoais, para tê-lo consigo - ele, Tom - para sempre.
Sobre Tom Jobim, ela esclarece que sua paixão não é "sexual" ou conjugal, e diz mais:
- "Tom foi a pessoa mais modesta que conheci. Ele tinha um enorme talento, foi um dos músicos populares mais importantes do nosso século, mas tinha uma humildade impressionante. Isso o diferencia das grandes estrelas, cheios de empáfia. Isso o faz ser grande".
Palavras dela!
Tristemente, Margaret confessou-me que compos uma música em homenagem a Tom, mas ele falecera sem tomar conhecimento disso.
Ainda hoje, quando ouço o próprio Tom Jobim cantando, lembro-me sempre de Margaret.

Le debut



Margaret Russel estreou, como cantora profissional, em Bruxelas, onde já era relativamente conhecida devido à publicação da partitura de uma canção sua, chamada Orquids in the rain. Numa época em que a TV não era um utensílio popular, Margaret tornou-se uma cantora da noite, realizando shows e animando espetáculos. Pude comprovar, através das fotos e recortes de jornais da época, que, no início da carreira, Margaret imitava Carmen Miranda, Judy Garland e participava de espetáculos como cantora dançarina e também como "patinadora".
Depois disso, seu talento ganhou o mundo e ela cantou em quase todas as capitais da Europa: Istambul, Atenas, Milão, Roma, Estocolmo, Lisboa, Porto, Londres e Paris, além da Tunísia e Egito, apenas para citar os lugares que pude comprovar no seu álbum pessoal. Um dia, ela foi convidada para substituir Isabelle Oubret, uma grande cantora de orquestra, que adoecera e, assim, veio para a América do Norte, fazendo shows a bordo de um transatlântico. Essa viagem seria repetida muitas vezes, justamente pela facilidade que a condição de artista lhe proporcionava.
Na América, vendeu suas composições, gravou dois discos, cantou em boates de São Francisco, de Palm Beach, de Nova York e em muitos hotéis de luxo que mantinham shows noturnos durante o verão. Conviveu então com muitas "feras" do jazz e, enfim, conheceu a música brasileira.
Na foto acima, com Louis Armstrong.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

La vie



Na época da entrevista, Margaret era uma jovem senhora, mas não revelou sua idade e, eu, como não sou jornalista de fato, nem insisti. Ela nasceu em Paris, na quarta geração de uma família de músicos. Filha de mãe francesa e pai inglês, tinha a avó paterna portuguêsa. Aos quatro anos de idade, o pai jornalista precisou mudar-se para Londres, com toda a família. Lá, Margaret fez seus estudos primários no Liceu Francês de Londres e, ainda criança, ouvia discos de Ella Fitzgerald, as canções de Cole Porter e de outros grandes compositores americanos. Disse-me que aprendeu a cantar observando a respiração de Ella.
Quando tinha quatorze anos, sua mãe faleceu, mas Margaret já não a via há dois anos, pois, ao adoecer, a mãe foi transferida para um hospital de Paris, onde permaneceu internada até o fim.
A partir dos treze anos começou a compor músicas em francês e em inglês; muito mais tarde, passou a compor em alemão, idioma que aprendeu porque trabalhava muito na Alemanhã, com músicos americanos. Durante a guerra, sua família saiu de Londres. Margaret conta que, nessa época, utilizava o dinheiro que o pai lhe dava para o lanche, para pagar músicos profissionais que transcreviam em partituras suas canções. Para memorizá-las, Margaret cantarolava-as interminavelmente, usando às vezes um aspirador de pó ligado, para que o pai não a ouvisse.
Cantou publicamente pela primeira vez aos 16 anos de idade, na BBC de Londres, contrariando a vontade do pai, que desejava que ela fosse uma boa dona de casa. Ú lá lá!!!

Présentation: la dame du "slow"



No Brasil, ela é absolutamente desconhecida, assim como a maioria das antigas cantoras de palcos.Também na França, onde vive, Margaret Russel já não é mais uma cantora "popular", embora seja muito respeitada em certos meios musicais. Além de cantora, Margaret é compositora e algumas de suas canções constam da lista dos maiores slows do mundo. Slow é a designação atribuida a um ritmo jazzístico, um pouco mais lento do que o jazz tradicional.
Eu tive a oportunidade de conhecê-la e de conviver um pouco com esta artista talentosa, cuja vida e carreira profissional poderia render um belo livro de memórias, pois ela conviveu com os maiores talentos musicais havidos a partir da década de 60.
Margaret concedeu-me uma entrevista durante um jantar informal na casa de amigos em comum, no dia 4 de fevereiro de 1999, em Paris. Com um discurso rápido, cheio de lembranças bem humoradas e falando em vários idiomas, na tentativa de fazer-se melhor entender, ela tornou a entrevista impossível de ser transcrita ao pé da letra. Por isso, optei por relatar, de forma sintética, algumas informações que podem configurar a sua trajetória profissional e, assim, apresentá-la aos amigos e visitantes do blog. Um pouco em cada post, avec moi.